Crítica XXI

Portugal é há quase meio século governado pelas esquerdas. Se estendermos a ideia de poder ao campo cultural, podemos dizer que esse domínio é até anterior à Revolução e permanece mesmo quando as direitas governam. 

Disto não resulta apenas que as direitas e o seu pensamento sejam mal conhecidos; resulta uma atmosfera cultural e mediática acomodada e maniqueísta sem espaço para a interrogação crítica. 

Crítica XXI quer dar a conhecer a tradição intelectual das direitas e os seus desenvolvimentos actuais, olhando para valores, ideias e princípios com liberdade incondicional.

NÚMERO 3 . PRIMAVERA 2023

Este terceiro número de Crítica XXI abre com um artigo de Jaime Nogueira Pinto sobre Maurice Barrès, Charles Maurras e Charles Péguy, três pensadores políticos franceses do último quartel do século XIX, anos em que nascem e amadurecem as ideias que vão marcar o século XX. Conhecer os três tipos de nacionalismo que representam é também importante para compreender o actual ressurgimento das identidades nacionais.

Bento XVI, antes Cardeal Ratzinger, foi, além de chefe da Igreja Católica, um grande teólogo.  Para ele, a Fé, não sendo totalmente apreensível pela razão, tem necessariamente de interpelar a razão em plena liberdade para sobreviver. É a sua obra que Diogo Madureira analisa no artigo “Joseph Ratzinger, o cooperador da verdade”.

“Como ler um ensaio” é um ensaio de Carlos Maria Bobone que nos confronta com uma série interrogações sobre o género ensaístico: para que serve um ensaio? Tem um método ou um vocabulário específico? Deve ser uma síntese ou uma análise? Não sabendo, exactamente, o que está a ser feito, como podemos avaliar se está ou não a ser bem feito? 

“Matar a vida ou viver a morte – o dilema da Eutanásia” é uma reflexão conjunta de Ana Carolina Braz e Alexandre Franco de Sá sobre o “o falso dilema” com que os políticos e a comunicação social costumam apresentar o viver ou deixar morrer.

No Portugal dos anos 80, que começava a sair culturalmente do Processo Revolucionário em Curso, os Heróis do Mar traziam a tradição lírica portuguesa para o pop, num moderno apelo ao “espírito nacional e à alma popular”. Em “Fiéis ao Romance: os Heróis do Mar e a Renascença Portuguesa” João Vaz traça o itinerário do grupo Heróis do Mar, que vê como um “projecto musical e teatral” com raízes na Renascença Portuguesa, particularmente em Teixeira de Pascoais.  

Francisco de Vitoria e Carl Schmitt são dois pensadores fundamentais da ordem do mundo e por isso do Direito Internacional. Vitoria, no século XVI, no momento em que as navegações e conquistas ultramarinas criavam o Jus Publicum Europaeum, Schmitt, ao longo de todo o século XX. Analisar como Schmitt viu Vitoria é o tema de “Vitoria e Schmitt – a ordem internacional entre a neutralidade e a verdade” de Leonor Durão Barroso e André Azevedo Alves.

É outro itinerário político-cultural português aquele que José Luís Andrade traça em “Portugal em revista: da Alma Portuguesa a A Águia e à Seara Nova.” As correntes ideológicas do limiar do século XX radicaram, ao modo europeu, em revistas. Aqui ficam algumas das principais.

Em “Uma democracia de pequenos produtores”, Rui Ramos, que nos números anteriores da Crítica XXI já tratou de Alexandre Herculano e António Sérgio, avança uma original interpretação de Oliveira Martins e da sua “Vida Nova”. O “socialista catedrático” do Portugal Contemporâneo defendia políticas que podiam ter salvado o constitucionalismo monárquico.

É na procura de um equilíbrio entre a Revolução e a Reacção pelos Doctrinaires que se centra a entrevista de Miguel Morgado a Aurelian Craiutu, professor de Princeton, nascido na Roménia e autor de Le Centre introuvable – La pensée politique des doctrinaires sous la Restauration. 

O número fecha com duas “Notas Críticas”, uma de Daniela Silva sobre The Evolutionary Limits of liberalism, de Filipe Nobre Faria, outra de Carlos Maria Bobone, sobre o livro de contos de Simão Lucas Pires, A Trombeta Vaga.

DIRECÇÃO JAIME NOGUEIRA PINTO E RUI RAMOS