Índice
N.1 OUTONO 2022
P. 5 | A MINHA VIAGEM PELA DIREITA E AS DIREITAS Jaime Nogueira Pinto |
Direita e Esquerda são conceitos interdependentes, lugares geométricos inicialmente baptizados a partir de lugares cativos em assembleias políticas fundacionais – o Parlamento britânico e as Constituintes pós-revolucionárias francesas – e definidos segundo as convicções dominantes dos grupos que ali se sentavam: à direita do Speaker ou do Presidente, os conservadores, à esquerda os progressistas.
P. 17 | NACIONALISMO: UM RETORNO? José Luís Andrade |
O mais recente conflito no leste europeu e a explosão de emotividade que causou em todo o mundo fez retornar o nacionalismo às primeiras páginas. Quer se manifeste através dos ímpetos imperialistas chineses, russos, americanos, ou mesmo das convulsões provocadas pela natural arrumação hierárquica dos países que compõem a União Europeia, os mais atentos já intuíram que por detrás dessas pulsões está a defesa e afirmação de
P. 30 | CARL SCHMITT E O DECISIONISMO – Cem Anos depois Alexandre Franco de Sá |
Há exactos cem anos, na Alemanha da República de Weimar, um jovem professor de direito de 34 anos – Carl Schmitt – publicava um pequeno livro que se tornaria uma fonte ininterrupta de discussão e polémica: Teologia Política: quatro capítulos para a doutrina da soberania. Neste texto, num quadro de predominância filosófica do neokantismo e em polémica aberta contra a filosofia do direito normativista de Hans Kelsen, uma das maiores
P. 39 | EUTANÁSIA – Morte da pessoa e do direito Mafalda Miranda Barbosa |
De tempos em tempos, somos confrontados com a tentativa de consagração legal do que, eufemisticamente, é designado por direito a uma morte assistida, como se, no quadro da sociedade portuguesa, não houvesse nenhum problema mais premente ou como se, em rigor, houvesse alguém que negasse a existência de um direito fundamental de acesso a cuidados de saúde, incluindo os cuidados paliativos. O certo é que, de forma paradoxal
P. 54 | DE UM LIVRO AO OUTRO – o exemplo da Nouvelle Droite Duarte Branquinho |
Um livro pode inspirar-nos, motivar-nos e, especialmente, fazer-nos pensar. Quando nos acompanha da adolescência à meia-idade, continuando a ter o mesmo efeito, sabemos que temos em mãos uma arma poderosa a aplicar no combate cultural permanente em defesa dos nossos valores fundamentais. Este é um relato pessoal de um encontro com livros, ideias e pessoas, mas sem saudosismos – antes com uma visão de futuro. Foi no Verão
P. 61 | O QUE SÃO OS LUSÍADAS N’OS LUSÍADAS Carlos Maria Bobone |
De que é que trata Os Lusíadas? A pedagogia liceal ensina que Camões escreveu a epopeia de um povo: o herói não é o Gama nem a viagem à Índia o verdadeiro tema; de facto, Vasco da Gama é pouco mais do que um embaixador apagado, que conta ao Rei de Melinde os feitos dos portugueses de antanho, e as peripécias da viagem resolvem-se com intervenção dos Deuses, sem dar azo a especiais marcas de heroísmo humano. Esta tese
P. 70 | ISTO DÁ VONTADE DE MORRER- Alexandre Herculano, o liberalismo do século XIX e a cultura portuguesa contemporânea. Rui Ramos |
Alexandre Herculano morreu há 145 anos, a 13 de Setembro de 1877. Nenhum outro intelectual português teve, em vida, o poder de Herculano. Mais do que escrever livros – fez uma literatura; mais do que comentar acontecimentos – inspirou-os; mais do que tentar compreender o mundo em que vivia – transformou-o. Herculano foi o autor de um dos romances portugueses mais reeditados do século XIX (Eurico, o Presbítero); dirigiu
RECENSÕES
P. 83 | O PADRINHO, COMO NOVO AOS CINQUENTA ANOS Miguel Freitas da Costa |
O Padrinho como quase toda a gente já deve saber, fez agora cinquenta anos. Estreado a 15 de Março de 1972 nos Estados Unidos, The Godfather estreou em Portugal a 24 de Outubro do mesmo ano. Está constantemente a ser reposto. Não é fácil encontrar muitos outros filmes que resistam tão bem à passagem do tempo.
P. 88 | THE DIALECTIAL IMAGINATION: A HISTORY OF THE FRANKFURT SCHOOL AND THE INSTITUTE OF SOCIAL RESEARCH, DE MARTIN JAY A ESCOLA DE FRANKFURT E A ESCOLA QUE FEZ José Maria Cortes |
O projecto de Frankfurt parece suicida, mas pouca coisa sopra tanta vida no filósofo contemporâneo como o passo para o cadafalso, cada silogismo apertando mais a corda ao pescoço. Se alguns, com Nietzsche à cabeça, deram páginas à negação da vida, outros houve que as encheram da negação da vida mental
P. 94 | GUERRE, DE LOUIS-FERDINAND CÉLINE Jaime Nogueira Pinto |
Apesar de a Segunda Guerra ter sido mais longa, mais mortífera e de consequências geopolíticas mais fundas, a Primeira Guerra Mundial, a de 14-18, ficará sempre como “a Grande Guerra” – também porque dela nasceu um século revolucionário, com as revoluções comunista, fascista e nacional-socialista, que deram origem a regimes que também foram desaparecendo ao longo do século.
P. 99 | ULYSSES, DE JAMES JOYCE: A RECENSÃO QUE PESSOA NÃO FEZ. Inês Lage Pinto Basto |
Nasceram os dois no século XIX, na década de 80 – Joyce a 2 de Fevereiro de 1882, Pessoa a 13 de Junho de 1888 –, tiveram os dois uma educação predominantemente anglo-saxónica e católica, consideravam-se os dois génios e, na sua pose típica, aparecem-nos os dois de óculos, chapéu e bigode: Joyce a olhar de frente para a câmara, Pessoa desviando quase sempre o olhar.
P. 107 | AS DOENÇAS DO BRASIL, VALTER HUGO MÃE Carlos Maria Bobone |
Parecia boa ideia. Valter Hugo Mãe devolvia escondido na prosa o açúcar que trouxemos do Brasil, exibia a nudez entre tribos índias mais acostumadas à exposição pública, o candomblé acobertava os sentimentalismos e a natureza freava o mau gosto de algumas metáforas, parecia de facto uma boa ideia: uma história desfraldada ao Brasil tribal tinha tudo para encobrir as maiores fraquezas de Valter Hugo Mãe e para se acomodar ao estilo do autor.